sábado, 18 de agosto de 2012

Ziraldo tem toda razão

     Um bom artista distinguem-se das pessoas comuns não somente pela capacidade criativa ou pela capacidade de enxergar além do visível mas também pela crítica perspicaz,construtiva, muitas vezes irônica, da sociedade onde se vive. Poderia ter várias criticas contra Ziraldo mas não poderia de deixar de admira-lo pelas palavras que disse na última bienal. Poderiam até ser suas últimas palavras, mas só por tentar desmascarar nossa atual sociedade, por tentar tirar o óculos cor-de-rosa com que vários "pedagogos", raça que já deveria ter sido extinta , pais e futurosos de plantão insistem em usar, Ziraldo já merece todo o nosso crédito como grande artista.
    "A família brasileira não lê. Nós temos a internet que pode ser a fonte da vida e do conhecimento, mas o computador é usado como brinquedo. Muitos pais não percebem, mas seus filhos se tornaram idiotas” . Perfeito Ziraldo , concordamos em gênero número e grau. Lendo os comentários sobre essa frase, percebi que não só os filhos estão se tornando idiotas , os pais também. Não conseguem nem entender uma simples crítica. Se Ziraldo tivesse dito: nós temos o martelo que é uma excelente ferramenta mas é usado como brinquedo, teríamos muito menos críticas.  O problema que Ziraldo ressalta não é o computador mas sim o que fazemos do mesmo. As pessoas pensam que estão lendo mais e ficando mais sábias por causa da tecnologia e quando alguém ataca essa lei, é severamente atacado. Mas a realidade é completamente oposta. O brasileiro, principalmente, acha que esta lendo mais por acessar mais o facebook , quando na verdade fica atrás de países como Argentina, Índia e etc. no quesito leitura de livros. 
      A leitura de um livro, volto a ressaltar, não tem somente a ver com o adquirir conhecimento; o que por si só já seria mais do que uma justificativa.Entretanto, tem algo muito mais profundo. Tem a capacidade de observação, de abstração, de percepção, de cognição. o que a torna a  verdadeira malhação cerebral. Ficar horas lendo meio textos, 140 caracteres, ideias desconexas, sem ritmo, sem profundidade, é pura divagação e isso nunca deu nem vai dar o que uma verdadeira leitura pode oferecer. Por isso, nosso filhos estão ficando idiotas sim e a tendência é ficar cada vez mais.
    Enquanto alunos no MIT estão aprendendo com parede de quadros, os nossos estão querendo parede de facebook . Claro que isso vai ter consequências  , aliás já está tendo. Enquanto não investirmos realmente em educação , não adianta de nada sermos o sexto maior PIB do mundo graças as nossas riquezas minerais. Voltaremos a ser a colonia que sempre fomos, somente um pouco mais moderninha e com alguns senhores de escravos a mais. Só podemos mudar isso com a educação , o que inclui leitura, muita leitura , muito esforço e dedicação. Talvez esse seja o problema. Pois sempre que dizemos esforço, muitos contestam e acham melhor a velha sombra e água fresca da teledramaturgia brasileira. Mesmo que esta velha sombra seja feita agora pela parede do facebook e  que água seja fresca porque está dentro do ar-condicionado. Obrigado Ziraldo.

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Carta aberta à Presidenta Dilma Rousseff - 13 FISL



Nós, participantes do 13º Fórum Internacional Software Livre, realizado em Porto Alegre entre 25 e 28 de julho de 2012, tomamos a liberdade de escrever esta carta pública endereçada a Excelentíssima Presidenta da República Dilma Rousseff, em nome da comunidade software livre brasileira, com o objetivo de manifestar nossa posição diante das políticas públicas na área de tecnologia da informação e internet implementadas por vosso governo.
Não poderíamos deixar de relembrar aqui a histórica visita que Vossa Excelência, e o então Presidente Lula, fizeram a este mesmo fórum, em sua décima edição, em 2009. Esta visita, que muito nos orgulhou, foi uma verdadeira celebração das liberdades digitais, e um reconhecimento dos esforços da comunidade software livre internacional, e, especialmente brasileira, na luta pela manutenção do conhecimento como bem comum. Os avanços e conquistas invejáveis produzidos pelas políticas públicas do governo federal do Brasil em direção às liberdades e à soberania tecnológicas foram reconhecidos e reafirmado o compromisso com esses valores.
Além do encontro do então Presidente Lula com os principais expoentes da comunidade software livre internacional, o momento foi marcado por seu discurso memorável, no qual o Presidente afirmou que em seu governo era “proibido proibir”, que “Lei Azeredo é censura”, além de determinar publicamente ao então Ministro da Justiça, Tarso Genro, a construção de um marco civil da internet.
Na oportunidade, Lula também reafirmou a defesa do software livre no seu governo, e foi ovacionado pelo público presente ao afirmar, em nome de todos os brasileiros:
"Nós tínhamos que escolher: ou nós iríamos para a cozinha preparar o prato que a gente queria comer, com os temperos que nós queríamos colocar e dar um gosto brasileiro para a comida, ou nós iríamos comer o prato que a Microsoft preparou para a gente. E, graças a Deus, prevaleceu, no nosso país, a questão e a decisão pelo software livre".


Além do compromisso assumido e cumprido durante o Governo Lula, e reafirmado pelo então Presidente durante o fisl10, em 19 de janeiro de 2010, no primeiro mês do vosso governo, foi publicada a Instrução Normativa nº 1, que dispôs sobre os critérios de sustentabilidade ambiental na aquisição de bens, contratação de serviços ou obras pela Administração Pública Federal. Dentre as diretrizes, destacam-se as determinações que proíbem o uso de componentes, ferramentas, códigos fontes e utilitários proprietários, e também a dependência de um único fornecedor, dando preferência ao uso de software livre - mais uma mostra de que o governo federal tinha ciência dos benefícios do tratamento dos bens imateriais como bens de domínio público, e da importância da manutenção do livre acesso ao conhecimento e seu compartilhamento como ferramenta de incentivo à democracia.
No entanto, hoje algumas questões pontuais têm deixado a todos nós, militantes do software e do conhecimento livre, apreensivos:
  • A retirada da licença livre Creative Commons do site do Ministério da Cultura e sua mudança de posicionamento em relação à reforma dos direitos autorais e às liberdades civis na internet;
  • A introdução, no acordo do Ministério das Comunicações com as Teles em relação ao plano nacional de banda larga (PNBL), de um grave precedente de limitação e tarifação do volume de dados que trafegam pela conexões das operadoras - como uma espécie de pedágio ou taxímetro cobrado por conteúdos de terceiros;
  • A iniciativa no INPI - Instituto Nacional de Propriedade Industrial - de abrir uma consulta pública indicando o patenteamento do software no Brasil, na contramão de uma das maiores lutas do movimento software livre internacional;
  • O Pregão Eletrônico (N. 116/7066-2012 – GILOG/BR) da Caixa Econômica Federal, na ordem de 112 milhões de reais, que contraria um histórico de investimento em desenvolvimento e adoção de softwares livres produzidos especificamente para a instituição.


Algumas décadas depois de os softwares e a internet terem se tornado elementos indissociáveis de nossas rotinas, já podemos afirmar com sólidos argumentos econômicos, científicos e sociais que:
  • o incentivo e a manutenção da luta pelo Software Livre,
  • a ausência de patentes de software, e a proteção da criação dos mesmos pela lei dos direitos autorais,
  • a manutenção de uma internet livre, neutra e inimputável,

são estratégias não só viáveis como indispensáveis para o despontar do Brasil como um país internacionalmente competitivo no que diz respeito à manutenção da inovação tecnológica, bem como para a manutenção das estratégias de democratização do conhecimento através da Inclusão Digital.
Por fim, confiantes de que podemos restabelecer a interlocução do governo federal com a comunidade software livre, da cultura digital e ativistas por direitos civis na internet, pedimos, publicamente, uma audiência de nossos representantes com Vossa Excelência para que possamos retomar o diálogo construtivo que sempre tivemos com o governo federal nestes últimos anos.


Aproveitamos também para manifestar nosso apoio e parabenizá-la pela condução da política econômica, dos programas sociais, em especial de combate à fome e à pobreza, e na firme postura contra a corrupção em nosso país.

Sem mais, subscrevemo-nos.

Ricardo Fritsch
Coordenador geral da Associação Software Livre.org, em nome dos participantes do 13º Fórum Internacional Software Livre
Enhanced by Zemanta