Em contrapartida, editoras nacionais, menores ou iniciantes, aderem o modelo a fim de angariar fundos rápido e enriquecer, não há outro motivo para que se dediquem todos ao mesmo gênero. Fazendo uma retrospectiva, este tipo e outros menos divulgados, sempre fizeram as festas das massas. Vendidos em feiras, publicados em jornais menores como folhetins, o gênero “dama das camélias”, erótico, western e pseudo-policial, era vendido barato, aliás, bem barato, custando cerca de um ou dois reais no máximo e não o que custam hoje – observem a manipulação! Não tinham nenhum cuidado literário nem vocabular, ao contrário, primando pela simplicidade para ser facilmente digerido pelas classes mal alfabetizadas, o que chamamos hoje de analfabetos funcionais, era um passatempo em ônibus superlotados, trens e filas de espera intermináveis onde só o povão ficava.
Comparando à sétima arte, o gênero erótico ou pornô, sempre foi veiculado com restrições de idade e disposição nas locadoras. Nunca foi enaltecido como o gênero de arte, tendo o seu devido lugar dentro do espectro cinematográfico - sub-arte. Caracterizam-se por enredo pobre, visando um único fim, o ato sexual em si, seja de que forma ou natureza for. O mesmo não acontece com os livros que estão expostos em todas as livrarias na cara de todos os clientes e adolescentes, que mal conseguem se afirmar no mundo ou ter ideias. São capturados pelo instinto e pior, sem necessidade, já que os hormônios dão bem conta do assunto. Os adolescentes e jovens não precisam de estímulo para exercer sua sexualidade. O que ocorre, então, é uma hipertrofia que canaliza toda a atenção e energia para um só fim. E essa mesma sociedade é que combate a gravidez e sexualidade na adolescência além de outras consequências nefasta do sexo indiscriminado, com programas escolares e sociais. Hipocrisia, apenas isso, hipocrisia!
As mães (porque esse gênero está como sempre muito mais direcionado ao público feminino, hoje simbolizando a liberdade da mulher!) são as primeiras a lerem e passarem para suas filhas, como se não tivesse nada demais elas serem mentalmente mais estimuladas do que já são hoje. E a questão que se coloca é a seguinte: com tanta liberação através de todos os meios de comunicação e agora arte, para que tanto estímulo numa só direção, já que o texto não acrescenta nada além do pobre enredo “picante” com descrições mais ou menos explícitas de jogos sexuais, mudando o nome da personagem, seu endereço e lugar de trabalho... no mais, tudo igual? Façamos livros sobre o ato de comer, sobre gula, sobre glutões, sobre pessoas gordas e compulsivas... creio que não daria muito certo, afinal, são pouco os que aguentam ultrapassar os limites da normalidade, da satisfação estomacal. Mas sexualmente falando, nada é o bastante e cai-se no vazio extremo com provocações constantes do sexo pelo sexo. Há blogs, páginas de face, digestivos culturais escritos por jornalistas e porfessores de literatura (pasmem!) que enaltecem o gênero com receio de caírem no ostracismo, no esquecimento, no remar contra a maré, hipervalorizando os romances que chegam como comidas enlatadas, fast-food, prontinhas para consumo rápido e imediato. Foram-se anjos, vampiros, lobisomens e súcubos... Venha e perpetue-se a baixaria erótica.
Como o objetivo básico e único das editoras é ganhar dinheiro, faturar lucros enormes (exorbitantes) sempre crescentes, este gênero está fadado a permanecer, com variações idiotas do mesmo tema, pois que, no fim, falar de sexo pelo sexo em si, vira uma mesmice. E os autores ou autoras, já repararam nos nomes - alguns são grotescos - e a maioria não existe. São escritos por grupos de funcionários que trabalham como copy desk nas grandes editoras para sobrevivência... alguns são jornalistas, mas se escondem atrás desses nomes de efeito. O mesmo não ocorre com a boa e verdadeira literatura, essa sim, totalmente esquecida além de perdida, segue seu rumo no anonimato, percorrendo outros caminhos de divulgação. Ninguém arrisca mais a inovação artística como se tudo já tivesse sido feito e escrito... não há mais manifestos, propostas, movimentos artístico-literários...
Entretanto, quanto mais veiculam e adotam essa baixa literatura, menos capacidade de absorver a boa literatura e os clássicos se desenvolve. E pensar que Ítalo Calvino e outros poucos grandes nomes da Literatura já gastaram tempo mostrando e provando a importância de se ler os clássicos, seja de literatura ou mesmo de Filosofia. E os compêndios do tipo 100 livros para se ler antes de..., 100 melhores contos universais, 100 melhores isso ou aquilo, em nenhum consta esse tipo de leitura.
Outra hipocrisia: os jovens passam o período escolar quase todo sem leitura, com baixa literatura, lendo literatura estrangeira enlatada, quando leem, e na véspera do vestibular a cobrança é pelos clássicos. Incoerência, absurdo, insensatez total. Em alguns meses, o vestibulando vai ler e absorver uma boa literatura, assim de pronto, sem comentários, sem estudo, depois de ter deixado seu cérebro frouxo anos seguidos? Quem orienta isso? A troco de que esse disparate, esse abismo, essa burrice para não dizer maldade? Os mesmos professores, que não adotam leituras decentes durante todo o ensino médio, não trabalham os textos em sala de aula com mil desculpas, são os que fazem os programas para o ingresso nas Faculdades, quando não ajudam na elaboração das provas. Resultado: a minoria elitista, rica, de colégios particulares com ensinos diferenciados ingressam nas grandes universidades, mormente as públicas. Ao resto, sobra o pagou-passou.
Bom, minha crítica está longe de ser puritana ou saudosista. É fortemente política com base filosófica, psicológica e pedagógica. A quem interessa esse grande circo armado? A quem interessa essas manipulações das massas, incluindo cada vez mais setores da sociedade? Um pouco de leitura de História séria traria a resposta para a ponta da língua.
Cris Danois