domingo, 22 de setembro de 2013

NOVO GÊNERO LITERÁRIO?

As grandes e médias editoras não cessam de manipular o imaginário das pessoas, inventando gêneros que nada tem a ver com a evolução ou progresso da Literatura Universal. Editados para fins comerciais, os gêneros criados dentro de grandes escritórios determinam o que vai ser consumido, lido ou não, pela maioria das pessoas. As tiragens são de milhões de exemplares, já traduzidos para os principais idiomas do mundo. Ainda nem chegaram às Livrarias e já saem com a frase marqueteira: um milhão de cópias vendidas.
    Em contrapartida, editoras nacionais, menores ou iniciantes, aderem o modelo a fim de angariar fundos rápido e enriquecer, não há outro motivo para que se dediquem todos ao mesmo gênero. Fazendo uma retrospectiva, este tipo e outros menos divulgados, sempre fizeram as festas das massas. Vendidos em feiras, publicados em jornais menores como folhetins, o gênero “dama das camélias”, erótico, western e pseudo-policial, era vendido barato, aliás, bem barato, custando cerca de um ou dois reais no máximo e não o que custam hoje – observem a manipulação! Não tinham nenhum cuidado literário nem vocabular, ao contrário, primando pela simplicidade para ser facilmente digerido pelas classes mal alfabetizadas, o que chamamos hoje de analfabetos funcionais, era um passatempo em ônibus superlotados, trens e filas de espera intermináveis onde só o povão ficava.
    Comparando à sétima arte, o gênero erótico ou pornô, sempre foi veiculado com restrições de idade e disposição nas locadoras. Nunca foi enaltecido como o gênero de arte, tendo o seu devido lugar dentro do espectro cinematográfico - sub-arte. Caracterizam-se por enredo pobre, visando um único fim, o ato sexual em si, seja de que forma ou natureza for.  O mesmo não acontece com os livros que estão expostos em todas as livrarias na cara de todos os clientes e adolescentes, que mal conseguem se afirmar no mundo ou ter ideias. São capturados pelo instinto e pior, sem necessidade, já que os hormônios dão bem conta do assunto. Os adolescentes e jovens não precisam de estímulo para exercer sua sexualidade. O que ocorre, então, é uma hipertrofia que canaliza toda a atenção e energia para um só fim. E essa mesma sociedade é que combate a gravidez e sexualidade na adolescência além de outras consequências nefasta do sexo indiscriminado, com programas escolares e sociais. Hipocrisia, apenas isso, hipocrisia!
    As mães (porque esse gênero está como sempre muito mais direcionado ao público feminino, hoje simbolizando a liberdade da mulher!) são as primeiras a lerem e passarem para suas filhas, como se não tivesse nada demais elas serem mentalmente mais estimuladas do que já são hoje. E a questão que se coloca é a seguinte: com tanta liberação através de todos os meios de comunicação e agora arte, para que tanto estímulo numa só direção, já que o texto não acrescenta nada além do pobre enredo “picante” com descrições mais ou menos explícitas de jogos sexuais, mudando o nome da personagem, seu endereço e lugar de trabalho... no mais, tudo igual?    Façamos livros sobre o ato de comer, sobre gula, sobre glutões, sobre pessoas gordas e compulsivas... creio que não daria muito certo, afinal, são pouco os que aguentam ultrapassar os limites da normalidade, da satisfação estomacal. Mas sexualmente falando, nada é o bastante e cai-se no vazio extremo com provocações constantes do sexo pelo sexo. Há blogs, páginas de face, digestivos culturais escritos por jornalistas e porfessores de literatura (pasmem!) que enaltecem o gênero com receio de caírem no ostracismo, no esquecimento, no remar contra a maré, hipervalorizando os romances que chegam como comidas enlatadas, fast-food, prontinhas para consumo rápido e imediato. Foram-se anjos, vampiros, lobisomens e súcubos... Venha e perpetue-se a baixaria erótica.
    Como o objetivo básico e único das editoras é ganhar dinheiro, faturar lucros enormes (exorbitantes) sempre crescentes, este gênero está fadado a permanecer, com variações idiotas do mesmo tema, pois que, no fim, falar de sexo pelo sexo em si, vira uma mesmice. E os autores ou autoras, já repararam nos nomes - alguns são grotescos - e a maioria não existe. São escritos por grupos de funcionários que trabalham como copy desk nas grandes editoras para sobrevivência... alguns são jornalistas, mas se escondem atrás desses nomes de efeito. O mesmo não ocorre com a boa e verdadeira literatura, essa sim, totalmente esquecida além de perdida, segue seu rumo no anonimato, percorrendo outros caminhos de divulgação.  Ninguém arrisca mais a inovação artística como se tudo já tivesse sido feito e escrito... não há mais manifestos, propostas, movimentos artístico-literários...  
Entretanto, quanto mais veiculam e adotam essa baixa literatura, menos capacidade de absorver a boa literatura e os clássicos se desenvolve. E pensar que Ítalo Calvino e outros poucos grandes nomes da Literatura já gastaram tempo mostrando e provando a importância de se ler os clássicos, seja de literatura ou mesmo de Filosofia. E os compêndios do tipo 100 livros para se ler antes de..., 100 melhores contos universais, 100 melhores isso ou aquilo, em nenhum consta esse tipo de leitura.
    Outra hipocrisia: os jovens passam o período escolar quase todo sem leitura, com baixa literatura, lendo literatura estrangeira enlatada, quando leem,  e na véspera do vestibular a cobrança é pelos clássicos. Incoerência, absurdo, insensatez total. Em alguns meses, o vestibulando vai ler e absorver uma boa literatura, assim de pronto, sem comentários, sem estudo, depois de ter deixado seu cérebro frouxo anos seguidos? Quem orienta isso? A troco de que esse disparate, esse abismo, essa burrice para não dizer maldade? Os mesmos professores, que não adotam leituras decentes durante todo o  ensino médio, não trabalham os textos em sala de aula com mil desculpas, são os que fazem os programas para o ingresso nas Faculdades, quando não ajudam na elaboração das provas. Resultado: a minoria elitista, rica, de colégios particulares com ensinos diferenciados ingressam nas grandes universidades, mormente as públicas. Ao resto, sobra o pagou-passou.
    Bom, minha crítica está longe de ser puritana ou saudosista. É fortemente política com base filosófica, psicológica e pedagógica. A quem interessa esse grande circo armado? A quem interessa essas manipulações das massas, incluindo cada vez mais setores da sociedade? Um pouco de leitura de História séria traria a resposta para a ponta da língua.

Cris Danois
 

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