As grandes e médias editoras não cessam de manipular o imaginário das
pessoas, inventando gêneros que nada tem a ver com a evolução ou
progresso da Literatura Universal. Editados para fins comerciais, os
gêneros criados dentro de grandes escritórios determinam o que vai ser
consumido, lido ou não, pela maioria das pessoas. As tiragens são de
milhões de exemplares, já traduzidos para os principais idiomas do
mundo. Ainda nem chegaram às Livrarias e já saem com a frase
marqueteira: um milhão de cópias vendidas.
Em contrapartida,
editoras nacionais, menores ou iniciantes, aderem o modelo a fim de
angariar fundos rápido e enriquecer, não há outro motivo para que se
dediquem todos ao mesmo gênero. Fazendo uma retrospectiva, este tipo e
outros menos divulgados, sempre fizeram as festas das massas. Vendidos
em feiras, publicados em jornais menores como folhetins, o gênero “dama
das camélias”, erótico, western e pseudo-policial, era vendido barato,
aliás, bem barato, custando cerca de um ou dois reais no máximo e não o
que custam hoje – observem a manipulação! Não tinham nenhum cuidado
literário nem vocabular, ao contrário, primando pela simplicidade para
ser facilmente digerido pelas classes mal alfabetizadas, o que chamamos
hoje de analfabetos funcionais, era um passatempo em ônibus
superlotados, trens e filas de espera intermináveis onde só o povão
ficava.
Comparando à sétima arte, o gênero erótico ou pornô,
sempre foi veiculado com restrições de idade e disposição nas locadoras.
Nunca foi enaltecido como o gênero de arte, tendo o seu devido lugar
dentro do espectro cinematográfico - sub-arte. Caracterizam-se por
enredo pobre, visando um único fim, o ato sexual em si, seja de que
forma ou natureza for. O mesmo não acontece com os livros que estão
expostos em todas as livrarias na cara de todos os clientes e
adolescentes, que mal conseguem se afirmar no mundo ou ter ideias. São
capturados pelo instinto e pior, sem necessidade, já que os hormônios
dão bem conta do assunto. Os adolescentes e jovens não precisam de
estímulo para exercer sua sexualidade. O que ocorre, então, é uma
hipertrofia que canaliza toda a atenção e energia para um só fim. E essa
mesma sociedade é que combate a gravidez e sexualidade na adolescência
além de outras consequências nefasta do sexo indiscriminado, com
programas escolares e sociais. Hipocrisia, apenas isso, hipocrisia!
As mães (porque esse gênero está como sempre muito mais direcionado ao
público feminino, hoje simbolizando a liberdade da mulher!) são as
primeiras a lerem e passarem para suas filhas, como se não tivesse nada
demais elas serem mentalmente mais estimuladas do que já são hoje. E a
questão que se coloca é a seguinte: com tanta liberação através de todos
os meios de comunicação e agora arte, para que tanto estímulo numa só
direção, já que o texto não acrescenta nada além do pobre enredo
“picante” com descrições mais ou menos explícitas de jogos sexuais,
mudando o nome da personagem, seu endereço e lugar de trabalho... no
mais, tudo igual? Façamos livros sobre o ato de comer, sobre gula,
sobre glutões, sobre pessoas gordas e compulsivas... creio que não daria
muito certo, afinal, são pouco os que aguentam ultrapassar os limites
da normalidade, da satisfação estomacal. Mas sexualmente falando, nada é
o bastante e cai-se no vazio extremo com provocações constantes do sexo
pelo sexo. Há blogs, páginas de face, digestivos culturais escritos por
jornalistas e porfessores de literatura (pasmem!) que enaltecem o
gênero com receio de caírem no ostracismo, no esquecimento, no remar
contra a maré, hipervalorizando os romances que chegam como comidas
enlatadas, fast-food, prontinhas para consumo rápido e imediato.
Foram-se anjos, vampiros, lobisomens e súcubos... Venha e perpetue-se a
baixaria erótica.
Como o objetivo básico e único das editoras é
ganhar dinheiro, faturar lucros enormes (exorbitantes) sempre
crescentes, este gênero está fadado a permanecer, com variações idiotas
do mesmo tema, pois que, no fim, falar de sexo pelo sexo em si, vira uma
mesmice. E os autores ou autoras, já repararam nos nomes - alguns são
grotescos - e a maioria não existe. São escritos por grupos de
funcionários que trabalham como copy desk nas grandes editoras para
sobrevivência... alguns são jornalistas, mas se escondem atrás desses
nomes de efeito. O mesmo não ocorre com a boa e verdadeira literatura,
essa sim, totalmente esquecida além de perdida, segue seu rumo no
anonimato, percorrendo outros caminhos de divulgação. Ninguém arrisca
mais a inovação artística como se tudo já tivesse sido feito e
escrito... não há mais manifestos, propostas, movimentos
artístico-literários...
Entretanto, quanto mais veiculam e
adotam essa baixa literatura, menos capacidade de absorver a boa
literatura e os clássicos se desenvolve. E pensar que Ítalo Calvino e
outros poucos grandes nomes da Literatura já gastaram tempo mostrando e
provando a importância de se ler os clássicos, seja de literatura ou
mesmo de Filosofia. E os compêndios do tipo 100 livros para se ler antes
de..., 100 melhores contos universais, 100 melhores isso ou aquilo, em
nenhum consta esse tipo de leitura.
Outra hipocrisia: os
jovens passam o período escolar quase todo sem leitura, com baixa
literatura, lendo literatura estrangeira enlatada, quando leem, e na
véspera do vestibular a cobrança é pelos clássicos. Incoerência,
absurdo, insensatez total. Em alguns meses, o vestibulando vai ler e
absorver uma boa literatura, assim de pronto, sem comentários, sem
estudo, depois de ter deixado seu cérebro frouxo anos seguidos? Quem
orienta isso? A troco de que esse disparate, esse abismo, essa burrice
para não dizer maldade? Os mesmos professores, que não adotam leituras
decentes durante todo o ensino médio, não trabalham os textos em sala
de aula com mil desculpas, são os que fazem os programas para o ingresso
nas Faculdades, quando não ajudam na elaboração das provas. Resultado: a
minoria elitista, rica, de colégios particulares com ensinos
diferenciados ingressam nas grandes universidades, mormente as públicas.
Ao resto, sobra o pagou-passou.
Bom, minha crítica está longe
de ser puritana ou saudosista. É fortemente política com base
filosófica, psicológica e pedagógica. A quem interessa esse grande circo
armado? A quem interessa essas manipulações das massas, incluindo cada
vez mais setores da sociedade? Um pouco de leitura de História séria
traria a resposta para a ponta da língua.
Cris Danois
Nenhum comentário:
Postar um comentário